LAJE DE SANTOS

Parque Estadual Marinho da Laje de Santos: um alerta aos impactos ambientais
A visitação de mergulhadores com baixa experiência e a interação com os animais marinhos podem causar desequilíbrios ao ecossistema. Para tanto mostra-se necessário que os mergulhadores recreacionais e profissionais (operadoras de mergulho e seus respectivos instrutores) aprimorem continuamente sua conscientização de preservação do meio ambiente, através de programas de educação ambiental, reciclando suas habilidades relacionadas a atividade de mergulho, visando manter a conservação do ecossistema local, já que o parque oferece uma fauna riquíssima e uma formação única no litoral sudeste

1. Introdução:

O Parque Estadual Marinho da Laje de Santos (PEMLS) está localizado na carta náutica nº 1711, delimitado pelas coordenadas 24º15.48.S, 46º12.00.W e 24º21.12.S, 46º09.00.W. Tem como referência náutica continental mais próxima o farol da Ilha da Moela, distante 16,8 milhas náuticas e de onde a Laje se encontra a 164º. Para chegar ao Parque, percorre-se uma distância de cerca de 25 milhas náuticas, considerando os principais ancoradouros do Guarujá, da Ponta da Praia, em Santos, e do Mar Pequeno, em S.Vicente. INSTITUTO FLORESTAL (2005).
Atualmente as operadoras de mergulho locais percorrem essa distância em aproximadamente uma hora e vinte minutos, pois utilizam lanchas rápidas, no passado quando eram utilizadas embarcações mais lentas, a mesma distância era percorrida em até três horas.
A área protegida do PEMLS inclui além da Laje de Santos, um afloramento rochoso denominado Calhaus e os parcéis imersos do Bandolim, Brilhante, do Sul e Novo, todos de origem granítica. Alguns dos parcéis possuem grutas que formam labirintos submersos. Possui um formato retangular nas seguintes dimensões: 10.000 metros por 5.000 metros, atingindo a área total de 50 km2. A Laje de Santos é uma rocha com 33 metros de altura, 550 metros de comprimento e 185 metros de largura máxima, se observada de longe lembra a imagem de uma baleia.
O Parque Estadual Marinho da Laje de Santos (PEMLS) foi criado 27 de setembro de 1997, através do Decreto Estadual nº 37537, em função de sua extraordinária diversidade de vida marinha e dos rochedos e parcéis próximos. É o primeiro parque marinho sob a administração do Instituto Florestal, órgão da Secretaria do Meio Ambiente.
Objetivou-se, com este trabalho, identificar os possíveis impactos ambientais gerados pelas atividades desenvolvidas na área do Parque Estadual Marinho da Laje de Santos e propor uma sistemática de preservação

2. Materiais e Métodos:

2.1 Materiais
Para realização desse trabalho foram utilizados os seguintes materiais:
a) equipamento fotográfico;
b) equipamento de mergulho autônomo (máscara, snorkel, nadadeiras, roupa de neoprene, regulador e cilindros de ar);
c) embarcação para navegação até o objeto de pesquisa.
d) legislações.
e) pesquisas.
f) referenciais bibliográficos como:
– livros.
– artigos técnicos.
– monografias.

2.2 Métodos
O presente artigo utilizou o método de estudo descritivo exploratório, além das observações e experimentos de campo.

3. Desenvolvimento:

O turismo em unidades de conservação é uma atividade geradora de recursos, considerada uma importante alternativa econômica para a manutenção destas áreas e subsistência das populações que vivem ao entorno.
Foi verificado que um grande número de mergulhos em um mesmo ponto pode alterar a distribuição de algumas espécies, mudar a estrutura da comunidade e provocar danos físicos a organismos residentes. (HAWKINS & ROBERTS, 1992), conflitando com os interesses da unidade de conservação. Mergulhadores podem causar danos à comunidade bentônica através do contato físico ou através da ressuspensão de sedimentos do fundo.
O impacto mais documentado do mergulho recreativo sobre organismos marinhos é a quebra e abrasão de colônias de corais escleractínios e de hidrocorais, popularmente chamados de corais duros (com esqueleto de carbonato de cálcio). A quantidade de fragmentos quebrados e dispersos, fissuras no tecido vivo e esqueletos mortos de corais são os índices mais utilizados como indicadores de impactos antropogênicos em recifes tropicais. (RIEGL & VELIMIROV, 1991).
Apesar dos danos aos organismos bentônicos estarem bem documentados, pouco se sabe da significância destes impactos.
?Muitos estudos traduzem o impacto de mergulho como sendo apenas pedaços de corais quebrados, sem maiores observações sobre se ocorre ou não alterações ao ecossistema. (JAMESON, 1999) .
Um grande número de pesquisadores analisou o comportamento dos mergulhadores, percebendo que a maioria predominante dos contatos são realizados sem que o mergulhador perceba.
Segundo Luiz Júnior (2003), (…) foi constatado que apesar da alta quantidade de toques no substrato, um pequeno número de mergulhadores é responsável pela maior parte dos danos causados. o que facilita a prevenção através da identificação dos indivíduos com maior potencial de geração de impactos.
O tipo de contato mais freqüente, responsável por mais da metade das interações, é o toque da nadadeira no fundo, quebrando corais ou levantando nuvens de suspensão (LUIZ JÚNIOR, 2003).
Esses contatos geralmente ocorrem na tentativa do mergulhador equilibrar sua flutuabilidade na coluna dágua.
Em especial, mergulhadores que se especializam em fotografia subaquática apresentam grande potencial de causar danos ao meio aquático. Observações em fotógrafos subaquáticos mostraram que eles são responsáveis por muito mais impactos do que os não fotógrafos (Barker & Roberts, 2004).
Isso se deve ao fato de fotógrafos subaquáticos estarem sempre em busca da melhor fotografia, procurando pontos de apoio e ficando invariavelmente desatentos aos impactos ambientais, o que não ocorre com mergulhadores que não possuem essa especialidade.

4. Resultados e Discussões:

De acordo com o estudo realizado no Parque Estadual Marinho da Laje de Santos, foi possível comprovar a existência de impactos ambientais, tais como a procura por pontos de apoio realizada por mergulhadores fotógrafos e o contato físico com o substrato do solo decorrentes da falta de equilíbrio na coluna d´água causada por mergulhadores inexperientes.
Isto mostra a necessidade de realização de estudos mais específicos sobre impactos no PEMLS, pois os recentes estudos obtidos com sucesso em outros países não podem ser tratados como regra para águas brasileiras, por se tratarem de ambientes consideravelmente diferentes.
Segundo Leão et al. (2003), os recifes de corais brasileiros são constituídos por espécies e gêneros de corais escleractínios filogeneticamente resquiciais e mais adaptados a situações ambientais extremas em comparação com corais do Indo-Pacífico e do Caribe.
Assim, uma alternativa interessante é a distribuição de mergulhadores entre vários pontos, permitindo mais controle da quantidade de usuários por ponto de mergulho, acomodando o maior número de usuários sem sobrecarregar esses pontos.
Uma ferramenta bastante eficaz é a educação ambiental, que orienta e alerta os usuários, minimizando consideravelmente este problema.
?Um bom trabalho de educação ambiental pode ser altamente efetivo e interessante no sentido de que pode fazer com que a capacidade suporte do ponto de mergulho seja aumentada e permita a utilização do local por um número maior de mergulhadores/ano. (Dixon et al., 1993).

5. Conclusão:

Os impactos ambientais causados pela atividade de mergulho autônomo em habitats marinhos brasileiros ainda são pouco conhecidos, em função do reduzido número de estudos sobre o assunto.
Outra dificuldade é a diferença existente entre os habitats marinhos brasileiros e os habitats marinhos do restante do mundo analisados por outros pesquisadores.
A necessidade de pesquisa sobre os impactos ambientais causados pela atividade de mergulho no PEMLS e nas outras unidades de conservação marinhas brasileiras é eminente, visando analisar principalmente os seguintes itens:
a) a susceptibilidade dos recifes a impactos dos mergulhadores;
b) o número de mergulhos realizados anualmente nas unidades de conservação brasileiras e os padrões de toques realizados por mergulho.
c) a obrigatoriedade das preleções dos pontos de mergulho. Essas preleções normalmente são realizadas pelos próprios profissionais das operações de mergulho. Portanto, um programa de capacitação ambiental a instrutores que trabalhem em unidades de conservação marinhas se faz necessário.
d) a obrigatoriedade de acompanhamento de guias devidamente treinados conduzindo os grupos de mergulhadores, de maneira que estes profissionais possam corrigir posturas inadequadas e possíveis contatos com o substrato marinho.

6. Agradecimentos:
– Osmar Luiz Júnior.
Referenciais Bibliográficos:
BARKER, N.H.L. & Roberts, C. M. Scuba diver behaviour and the management of diving impacts on coral reefs. USA, Biological Conservation 120: 481-489, 2004.
CLARK, J.R. Carrying capacity: a status report on marine and coastal parks and reserves. Miami, USA, RSMAS, 1991.
DIXON, J. A. , Scura, L.F. & van?t Hof, T. Meeting ecological and economic goals: marine parks in the Caribbean. USA, Ambio 22: 117-125, 1993.
HAWKINS, J.P. , Roberts, C.M., Van?t Hoff, T., deMeyer, K., Tratalos, J. & Aldan, C. Effects of recreational scuba diving on Caribbean coral and fish communities. USA, Conservation Biology 13:888-897, 1999.
INSTITUTO FLORESTAL. Parque Estadual Marinho da Laje de Santos. http://www.iflorestsp.br/pemls/index.html. Acesso em: 24 ago 2005.
JAMESON, S.C., Ammar, M.S.A., Saadalla, E., Mostafa, H.M. & Riegl, B. A coral damage index and its application to diving sites in the Egyptian Red Sea. England, Coral Reefs 18: 333-339, 1999.
LAJE VIVA. http://lajeviva.org.br. Acessado em: 9 set 2005.
LEÃO, Z.M.A.N., Kikuchi, R.K.P. & Testa, V. Corals and coral reefs of Brazil. In Cortés, J.(Ed.) Latin American Coral Reefs. Bahia, Brasil, Elsevier, 2003.
LUIZ-JÚNIOR, O.J. Observações sobre o comportamento dos mergulhadores recreativos e seus potenciais impactos no Parque Estadual Marinho da Laje de Santos. Relatório Técnico do Parque Estadual Marinho da Laje de Santos, Santos, 2003.
LUIZ-JÚNIOR, O.J. http://www.lajeviva.org.br/indViewGal.php?idGal=5. Acesso em: 10 set 2005.
RIEGL, B. & Velimirov, B. How many damaged corals in Red Sea reef systems?


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